Em comemoração ao centenário do professor José Calasans (1915-2015), a deputada estadual Fátima Nunes realizará uma sessão especial, na Assembleia Legislativa (Alba), no próximo dia 19 de maio, às 9h. A sessão tem como objetivo homenagear e reverenciar o professor que dedicou a vida e obra aos estudos sobre o município de Canudos. “O professor Calasans teve uma acentuada dedicação por um dos maiores tradutores da vida sertaneja, e em especial a saga da Revolta de Canudos que vitimou milhares de mulheres e homens no final do sec. XIX. É um homem de absoluta importância para a nossa história e cultura. Jamais poderia deixar essa data passar em branco”, justificou a deputada Fátima Nunes. Calasans também se destacou em vários outros ramos da pesquisa social, em temas da religiosidade indígena, estudos folclóricos e perfis biográficos de personalidades baianas e sergipanas, além de memórias de instituições diversas. Realizou larga docência nos dois Estados, orientando dezenas de dissertações e teses sobre o fulcro de sua dedicação, o povo e a história de Canudos.
José Calasans José Calasans viveu um tempo de muita história. Desde cedo se interessou pelos acontecimentos políticos da época – como o Levante do Forte de Copacabana, em 1922, e as revoltas do 28º Batalhão de Caçadores em Aracaju nos anos de 1924 e 1926 – mas quem lhe sedimentou o gosto pelos estudos históricos foi Clodomir Silva, seu professor de português no Atheneu Sergipense e importante pesquisador do folclore e da história de Sergipe. Esta convivência com o mestre também despertou no jovem estudante o interesse pela oralidade que mais tarde lhe colocaria entre os pioneiros na historiografia brasileira. Em 1933, com o desejo de ser professor de História, Calasans deixou a terra natal e foi estudar na Faculdade Livre de Direito da Bahia. Na época, era um dos líderes da Juventude Integralista e lutou pela criação de um núcleo de Cultura Espiritualista, projeto que provocou conflitos na Faculdade. Pouco tempo depois, conforme declarou em depoimento, abandonaria as ideias propagadas por Plínio Salgado. Concluído o curso de Direito, em 1937, José Calasans voltou para Aracaju e dedicou-se ao magistério e estudos históricos, desenvolvendo pesquisas sobre os motivos que levaram à mudança da capital sergipana, antes estabelecida em São Cristovão. Na ocasião, compilou versos populares sobre o tema para fazer um cancioneiro político-popular. Do seu interesse pela poética das ruas, surgiriam os primeiros estudos sobre os aspectos folclores da cachaça que levariam à publicação do livro “Cachaça Moça Branca”. Ainda em Sergipe, trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, então dirigido por Rodrigo de Mello Franco, e iniciou o levantamento dos monumentos históricos sergipanos que, mais tarde, seriam tombados pela instituição. Poucos anos depois, Calasans voltou para Salvador, onde retomou o magistério e dirigiu o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial/SENAC. Na época, também desenvolveu pesquisas sobre a Revolução de 30, mantendo vasta correspondência com revoltosos, e prestou concurso de Livre Docência na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, apresentando a tese “O Ciclo Folclórico do Bom Jesus Conselheiro, Contribuição ao Estudo da Campanha de Canudos”. Com esse trabalho, José Calasans iniciou a sua dedicação ao tema que abraçaria por toda a vida. Ainda jovem, tinha sido estimulado pelas pesquisas de oralidade quando frequentou vários locais de Aracaju em busca de versos populares sobre o folclore sergipano. Nas suas andanças, ouviram quadrinhas sobre o coronel Moreira César e a Guerra de Canudos. Alguns anos depois, em 1947, se impressionou com o episódio ao ler na revista “O Cruzeiro” uma reportagem rememorando o cinquentenário do conflito e apresentando depoimentos de sobreviventes colhidos na Canudos reconstruída sobre os escombros da cidadela conselheirista1. Depois dessa leitura, decidiu conhecer o cenário da guerra com o objetivo de colher informações para a tese que apresentaria à Faculdade de Filosofia em 1950. Com o “Ciclo Folclórico do Bom Jesus Conselheiro”, José Calasans trouxe para os meios acadêmicos a voz dos vencidos. À ela dedicou inúmeros estudos e pesquisas, libertando-a, como ele próprio anotou, “da gaiola de ouro de Os sertões”, numa referência ao livro de Euclydes da Cunha que, durante muito tempo, centralizou os estudos sobre Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. O Professor José Calasans Brandão da Silva faleceu na Cidade do Salvador no dia 28 de maio de 2001. Era casado com Lúcia Margarida Maciel da Silva e tiveram dois filhos: José, falecido precocemente, e Maria Madalena. O seu acervo, fruto das suas investigações sobre o tema, está disponível para pesquisas no Núcleo Sertão do Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, criado em 1983, depois de generosa doação do Mestre.
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