Assembleia homenageia centenário do professor José Calasans

“Eu vou contar uma história de um cara camarada, que nasceu em Sergipe e na Bahia veio morar (…)”. Com os versos que remontam momentos da vida do professor José Calasans, recitado pelos alunos da escola municipal José Calasans Brandão da Silva, que foi iniciada a sessão especial proposta pela deputada Fátima Nunes (PT), em comemoração ao centenário de nascimento do professor. Além a memória do ilustre pesquisador, a maior autoridade no fenômeno social de Canudos foi reverenciada por todos os oradores sendo destacada também seus estudos sobre religiosidade indígena, folclóricos e perfis biográficos de personagens baianas e sergipanas – bem como memórias de instituições diversas. A proponente da sessão, deputada Fátima Nunes, ao saudar o professor José Calasans revelou que o fazia por respeito.

“É o reconhecimento ao trabalho e às pesquisas realizadas por um historiador brasileiro que estudou momentos ímpares da história do Brasil e da Bahia, como a guerra de Canudos, contando para milhões de pessoas a saga de Antônio Conselheiro, além de um pouco da vida do povo sertanejo”. Os demais palestrantes igualmente destacaram a qualidade do trabalho do homenageado, observando que não há como tratar do fenômeno social encarnado na figura do conselheiro e do massacre subsequente sem se reportar aos textos de José Calasans.

Nesta mesma sintonia, falou a diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, Maria Hilda Baqueiro, que classificou a riqueza intelectual do professor como “de uma coerência singular”. Maria Hilda destaca a forma como José Calasans escreveu sobre as cidades e sobre os índios do Recôncavo, “criando um cenário especifico e uma resistência características de personagens que nunca tinham sido descritos”. Além de ressaltar a importância do “Amante do Sertão”, como ele também era conhecido, Eliene Dourado Bina, diretora do Museu Eugênio Teixeira Leal, pontuou que uma das maiores contribuições do homenageado era voltada para conservação e perpetuação dos elementos históricos da Bahia.

Esta faceta está consubstanciada na própria concepção do Museu Eugênio Teixeira Leal, que, segundo a diretora, “foi implantado com a proposta de ser algo muito além de um museu, funcionando como uma autêntica casa de cultura”. Eliene Bina informou que o museu Eugênio Teixeira Leal reúne uma singularidade que o destaca dos outros ambientes museológicos da Bahia. “Ali está um espaço onde reunimos um cine clube, um memorial, um arquivo, e uma biblioteca extensa, dentre outros acervos que contam a nossa história”. José Calasans dirigiu o museu por duas décadas.

Por seu turno, Sérgio Guerra, membro do Conselho Municipal de Educação, frisa que ao propor essa homenagem ao “Amante do Sertão”, a deputada Fátima Nunes estava homenageando todos os admiradores da obra de José Calasans, considerado por Guerra como “um historiador revolucionário, que caminhou pelos rincões do Brasil para que pudéssemos ter a oportunidade de conhecer melhor a nossa história”. Frisou a extensão do trabalho de campo do professor, da pesquisa “in loco” e da coleta de material primário, oral, de inestimável valor.

A Assembleia Legislativa já se associou ao trabalho do professor José Calasans em duas oportunidades. A primeira publicando em regime de coedição com o museu Eugênio Teixeira Leal graças ao trabalho do professor José Calasans a coleção Memórias da Bahia (quatro volumes já foram impressos e o quinto sairá do prelo até o final do ano), que contém 100 palestras realizadas sobre expoentes da cultura baiana organizadas e coordenadas por ele num período de dez anos no auditório daquele museu. Os livros trazem a íntegra desses trabalhos divididos por temas. Há dois meses também em regime de coedição com o Instituto Geográfico e Histórico e o Museu Eugênio Teixeira Leal foi lançado o livro “Cartografia de Canudos”, que contém 27 ensaios do professor sobre a saga do conselheiro e suas consequências.

José Calasans Brandão da Silva era sergipano de Aracaju. Nasceu em 14 de julho de 1915, falecendo em Salvador, em 28 de maio de 2001, foi uma das mais eminentes figuras de intelectual sergipano-baiano, com forte participação na vida sergipana, especialmente até a década de 1950, continuando, ainda, depois que mudou para Salvador e passou a ser, na Bahia, uma referência como professor universitário, exercendo funções destacadas na vida cultural baiana.

Em Sergipe foi professor da Escola Normal e do Ateneu, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, liderando movimentos culturais como o da criação do Centro de Estudos Econômicos e Sociais de Sergipe, em 1944, ao lado de Orlando Dantas, Garcia Moreno, Urbano Neto, Marcos Ferreira de Jesus, Jorge de Oliveira Neto e outros, a fundação da Revista de Aracaju, com Mário Cabral e Fernando Porto.

Na Bahia foi professor de História Moderna e Contemporânea e professor adjunto de Folclore na Universidade Federal da Bahia, da qual foi vice-reitor, no reitorado do também sergipano Luiz Fernando Macedo Costa, sendo também presidente do Conselho Estadual de Cultura, presidente da Academia de Letras da Bahia, presidente do Rotary Clube da Bahia, dentre outras atividades. Fátima Nunes disse que sessão marcou reconhecimento do trabalho Estudantes da Escola Municipal José Calasans Brandão da Silva prestigiaram o evento no plenário da Casa Legislativa Mesa contou com a participação de intelectuais baianos.

Fonte: Diário Oficial da Bahia

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